quarta-feira, 31 de março de 2010

Sair daqui...



Estamos “condenados” a avançar para o futuro. Somos convocados a fazer das tripas coração para que esse futuro seja bem melhor do que este presente. É preciso sair daqui! – é o que pensamos sempre que acidentalmente pisamos em assuntos nojentos, como o do post anterior. Só que no nosso caso, enquanto portugueses, fugir para o passado não é solução, já que temos um passado ainda mais nojento do que o presente.

Mesmo assim, porque éramos crianças, sempre conseguimos aqui e ali encontrar uma memória que nos devolve a um tempo ainda inocente, passado entre as páginas do velho livro de leitura da 3ª classe (sempre o mesmo, durante décadas)... isto, para gente com a minha idade, ou um pouco mais, ou muito pouco menos.

É aqui que entra em cena esta “pérola”, da autoria de Acácio de Paiva, protagonizada pela azougada menina Loló.


“A gata e a boneca”

Tinha a menina Loló
Uma sábia bonequita:
Aquilo bastava só
Puxar a gente uma guita
Que lhe pendia por trás,
Sob o vestido de lã,
Para abrir a boca, e zás!
Dizer papá e mamã!

Ora a Loló também tinha
Uma gata (era maltesa).
Essa, porém, coitadinha.
Era muda, com certeza.
Miava apenas ; mais nada.
De maneira que a pequena
Andava desanimada,
Até chorava com pena!

Um dia pensou: «Talvez
A doença tenha cura…».
(A doença era a mudez
Da citada criatura).
Se o mesmo fizer à gata
Que à mona, quem sabe lá
Se a língua se lhe desata
E diz mamã e papá.

Dito e feito. A pequerrucha,
Quando a bichana dormia
Puxou-lhe a cauda gorducha:
Dois saltos fenomenais.
Uma forte arranhadela.
E… quem chamou pelos pais
Não foi a gata. – foi ela!

Desde então Loló, se passa
Ao pé de um gato ou dum cão.
Não lhe toca nem por graça.
Pois lhe serviu de lição.
Não compreende, porém.
Qual venha a ser, afinal,
A serventia que tem
A cauda de um animal…

(Acácio de Paiva, in “Livro de Leitura da 3ª Classe”)

Autoeuropa - Um pedaço de História recente



Sobre a Autoeuropa, a grande unidade fabril de Palmela, fala-se pouco. A coisa vai dando para o gasto, os alemães da Volkswagen fazem mais ou menos tudo o que lhes apetece, o coordenador da Comissão de Trabalhadores e dirigente do BE, entre avanços, recuos e lutas mal contadas, lá vai arranjando tempo para abrilhantar uns jantares de homenagem a ministros do PS caídos em desgraça (pronto... não foram jantares... foi só um). Só que há sempre pérolas ainda por descobrir. A saber:

O senhor António Damasceno Correia é doutorando no Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa e esteve já ligado à administração da Autoeuropa. Mais exactamente, foi Director de Recursos Humanos. Certamente por esse facto, reuniu experiências suficientes para escrever para a revista do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, um estudo de muitas páginas sobre aquela empresa, intitulado “A AutoEuropa: um modelo de produção pós-fordista”, em que fala um pouco de tudo, desde o tipo de investimento, até ao modelo de negócio e tudo o mais que lhe veio à cabeça, texto que poderão ver na íntegra, se tiverem realmente interesse, indo lê-lo aqui.

A páginas tantas, por volta da página 764, no número 9.4 que leva o título de “A relação com a comissão de trabalhadores”, de pois de antes ter revelado que a empresa tinha decidido reduzir a relação com os sindicatos aos mínimos exigidos pela lei, o estudioso produz um pedaço de texto fantástico, fantástico de inquietante, digo eu, onde conta como foi “criada” (é o termo exacto) a famosa CT da Autoeuropa, dirigida artisticamente por António Chora.

Reproduzo apenas o texto, a seguir, coibindo-me de fazer comentários, a não ser, talvez, este: por muito que eu deteste a designação... a verdade é que alguns analistas, políticos e patrões neoliberais, afinal têm razão. Alguns trabalhadores são, se facto, colaboradores!

Boa leitura e digam vocês de vossa justiça (os destaques em bold são de minha iniciativa).

9.4. A RELAÇÃO COM A COMISSÃO DE TRABALHADORES
A opção por uma relação privilegiada com a comissão de trabalhadores pressupôs que a escolha dos membros que integrariam esta futura estruturarepresentativa não fosse deixada ao acaso! Quando se começou a pressentir o desejo de constituição desta estrutura, provavelmente estimulada pelos membros ligados aos sindicatos da CGTP — muitos deles eram desconhecidos formalmente por não quererem revelar a sua identidade —, a empresa rapidamente «entrou em jogo». Contactou sigilosamente o director de cada uma das áreas para que este indicasse nomes de trabalhadores de «confiança» que pudessem integrar a futura estrutura.

A escolha de um «líder» para esta comissão que inspirasse a capacidade de defesa dos interesses dos restantes colegas e que, simultaneamente, revelasse à empresa as informações necessárias foi ainda o aspecto mais difícil de ultrapassar. Tudo isto acabou por ser obtido através de um convite dirigido a um membro que mostrava enorme capacidade de persuasão dos colegas e que era permeável a uma forte influência. Foi com este dirigente da comissão de trabalhadores que a empresa estabeleceu uma entente cordiale que permitiu, na véspera dos grandes embates, conhecer antecipadamente, através de uma reunião sigilosa entre ele e o director de Recursos Humanos, quais os pontos que seriam objecto de análise na reunião do dia seguinte e a provável maneira de os ultrapassar.

Nas eleições para a constituição desta comissão acabaram por aparecer duas listas: uma integrada e liderada por delegados sindicais afecta à CGTP (lista A) e outra constituída, preparada e devidamente suportada pela empresa em sessões de esclarecimento realizadas para o efeito (lista B). Esta segunda lista, inicialmente defendida pelo grupo de trabalhadores independentes de que já se falou — mas que não integravam a lista —, teve uma dupla missão: viabilizar não só uma estratégia de consenso, como anular a força veiculada pelos sindicatos. O risco que a empresa correu foi grande, mas a encenação, o planeamento e a capacidade persuasora e manipuladora de alguns gestores permitiram um enorme êxito.
As eleições tiveram lugar em Abril de 1994 e os resultados foram os seguintes:


Com estes resultados, a lista afecta à CGTP elegeu três elementos e a lista B oito elementos, o que significava que a empresa se manteria soberana nas relações laborais a estabelecer.

terça-feira, 30 de março de 2010

Via sacra


("A Senhora e o Menino" - Domenico Ghirlandaio)

Está a chegar a hora de a televisão ser, tal como todos os anos, inundada por filmes sobre a história da vida de Cristo. Já que tem mesmo que ser...

Só espero que nenhum “amigo da onça” me conte o final da história... ou lá se vai todo o suspense.

Sopram ventos adversos *



Enquanto vou admirando a humildade e, sobretudo, profunda “piedade” das palavras do senhor Retzinger, que chama «murmúrios» ao clamor da multidão de vítimas de agressões sexuais cometidas ao longo de décadas por sacerdotes católicos e à avalanche de novas denúncias dessas agressões que, uma vez perdido o medo, vão inundando os órgãos de comunicação social, chega-me a decepcionante notícia de que a visita do papa não deve significar amnistia... apesar das movimentações nesse sentido.

Animados, talvez, pelos títulos de jornais que vão lendo, amigos e familiares de pedófilos já condenados e presos, tinham alguma esperança de poderem contar com a conhecida protecção e simpatia do Vaticano... mas podem desenganar-se. Mesmo aqueles reclusos que pertençam ao clero, dada a excessiva exposição deste tema, por estes dias não poderão contar com nenhuma amnistia por ocasião da visita de Sua “santidade”... quanto mais os outros!...

* Com um obrigado ao Zé Mário Branco pelo “empréstimo” do título.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Jerónimo e Cavaco – Malha em cheio no fito



Os posicionamentos individuais perante a vida e os acontecimentos que a compõem, se não definem sempre a origem e consciência de classe dos indivíduos, pelo menos esclarecem-nos sobre os seus alinhamentos, simpatias e pensamento. É assim com quase todos os factos da nossa vida social e política... é assim com o PEC.

Este Programa de alegada Estabilidade e reiteradamente prometido Crescimento é um conjunto de medidas de tal maneira definidor de uma política, que quase todas os ataques, defesas, ou simples opiniões sobre ele, dizem-nos claramente ao que vem quem se pronuncia.

Assim chegamos a Jerónimo de Sousa, um político e um ser humano de quem gosto alguns dias ainda mais do que nos restantes. Perante a fúria privatizadora deste PEC, em que o governo PS tenta disfarçar a entrega de mão beijada aos privados de tudo o que dá lucro no sector público, de solução não só inevitável, como também um bom negócio para o Estado, Cavaco Silva rapou dos seus méritos contabilísticos e descobriu que isso (a juntar às restantes malfeitorias de que o PEC está cheio) é uma coisa muito boa para Portugal.

Ao lembrar que a nossa Constituição preconiza a existência de um forte Sector Empresarial do Estado, Jerónimo de Sousa afirma que esta posição de Cavaco é um mau trabalho. Mau trabalho como economista, mau trabalho como cidadão, péssimo trabalho como Presidente, que tem como obrigação maior defender a Constituição.

É uma afirmação contundente, esta de Jerónimo de Sousa. Bate aos pontos o meu já habitual “pano encharcado”...

Enxugarei teu rosto com cuidado. Tu farás o meu canto.



O carácter tem caminhos insondáveis! Aqueles que o têm, tantas vezes completamente despojados de bens materiais, estão disposto a pagar preços altíssimos para o manterem. Aqueles que o não têm, tantas vezes podres de ricos, não possuem dinheiro que chegue para o comprar.

Foi o que pensei ao tropeçar mais uma vez nesta grande fotografia, conseguida pela fotógrafa Dorothea Lange, em 1936, nos Estados Unidos da América. A imagem faz parte de um trabalho documental sobre a Grande Depressão, encomendado a um grupo de repórteres.

A mulher aqui retratada, uma trabalhadora que com o marido e os filhos, tal como centenas e centenas de outras famílias, percorria os campos em busca do que quer que pudesse encontrar como trabalho, tornou-se “famosa” depois da publicação desta imagem. Ficou conhecida como a “Mãe Migrante”. Chamava-se Florence Owens Thompson. Quando foi fotografada tinha já sete filhos... e 32 anos de idade!

Em vez de comentários prefiro dedicar-lhe, tantos anos passados, este impressionante e belíssimo poema de Mário Dionísio, que fui tomar emprestado ao “Cravo de Abril”.


Poemas do cão danado (4)



Deixa lá, companheira!
Que havemos de fazer?
Fecharam-nos a porta e quase nos cuspiram.
Pisaram-te e, a mim, vergastaram-me as mãos.
Deixa lá! Deixa lá! Eu beijarei teus pés
e tu farás sarar as minhas mãos.
Para lá da última casa ainda há terra
e céu e água e luz...

Ainda há vida para lá.

Deixemos para eles o som vazio das gargalhadas
e a luxúria do oiro.
Ainda há vida para lá.
O nosso horizonte é mais vasto em cada instante.
A nossa voz mais rica em cada instante.
O nosso querer mais certo em cada instante.
Ainda há vida para lá.
Sigamos nossa rota, companheira.
Enxugarei teu rosto com cuidado.
Tu farás o meu canto.
E para além das barreiras do tempo
milhões de homens nos esperam com os braços abertos,
que desde a primeira hora serão braços de irmãos.

Mário Dionísio (“O Homem Sozinho na Beira do Cais”)

domingo, 28 de março de 2010

Pablo Milanés & Joaquín Sabina - Uma canção para Madalena



Neste ponto da nossa viagem, todos os mais assíduos visitantes já perceberam que eu tenho um "caso" com Joaquín Sabina, cantor e autor castelhano cuja música foi evoluindo para uma coisa cada vez mais ao meu gosto, com picos de excelência difíceis de classificar... como a canção de hoje.

Certamente por ter sabido de outro dos meus “pontos fracos”, o Joaquín Sabina, um mestre na arte das palavras que cantam, foi buscar Pablo Milanés para fazer a música desta “Una canción para la Magdalena”, um pedaço de cantiga arrepiante.

Cantam-na os dois. Sabina, na sua voz destruída por muitas estradas e ainda mais noites. O Pablo, com aquele inexplicável rio de som que lhe sai da garganta.

Bom domingo!


Una canción para la Magdalena
Letra: Joaquín Sabina
Música: Pablo Milanés
In: “19 Días Y 500 Noches” (1999)


Si, a media noche, por la carretera
que te conté,

detrás de una gasolinera
donde llené,

te hacen un guiño unas bombillas (se te acenarem umas lâmpadas)
azules, rojas y amarillas,

pórtate bien
y frena.

Y, si la Magdalena
pide un trago,

tú la invitas a cien
que yo los pago.

Acércate a su puerta y llama
si te mueres de sed,

si ya no juegas a las damas
ni con tu mujer.

Sólo te pido que me escribas,

contándome si sigue viva
la virgen del pecado,

la novia de la flor de la saliva,

el sexo con amor de los casados.

Dueña de un corazón,

tan cinco estrellas,

que, hasta el hijo de un Dios,

una vez que la vio,

se fue con ella.

Y nunca le cobró
la Magdalena.


Si estás más solo que la luna,

déjate convencer,

brindando a mi salud,
con una que yo me sé.

Y, cuando suban las bebidas,

el doble de lo que te pida
dale por sus favores,

que, en casa de María de Magdala,

las malas compañías son las mejores.

Si llevas grasa en la guantera (se levas dinheiro no porta-luvas)
u un alma que perder,

aparca, junto a sus caderas (junto às suas ancas)
de leche y miel.

Entre dos curvas redentoras
la más prohibida de las frutas
te espera hasta la aurora,

la más señora de todas las putas,

la más puta de todas las señoras.

Con ese corazón,

tan cinco estrellas,

que, hasta el hijo de un Dios,

una vez que la vio,

se fue con ella,

Y nunca le cobró
la Magdalena.

“Una canción para la Magdalena” – J. Sabina & P. Milanés
(Joaquín Sabina/Pablo Milanés)

sábado, 27 de março de 2010

Eclipse suíno



Segundo as próprias palavras de Francisco George, o nosso empenhado director geral da Saúde, o vírus H1N1, da famosa gripe A, a tal que, segundo os crédulos meios de comunicação social e autoridades de saúde internacionais, iria dizimar quase um terço da população mundial, «eclipsou-se».

Bom, nem tudo é “mau”. Os crápulas, donos dos laboratórios e empresas farmacêuticas, que convenceram essas autoridades e os media a espalharem o pânico em todo o mundo, “forçando” os governos a comprar milhões, muitos milhões de vacinas para além daquelas que eram efectivamente necessárias, esses fizeram fortunas gigantescas... que levarão imenso tempo a eclipsar-se.

Matem-se os mensageiros!



De toda a parte chegam notícias de estórias aberrantes vindas do clero. Notícias antigas, mais recentes e de hoje, que nos dão conta do pesadelo vivido por milhares de rapazes e raparigas marcados para toda a vida por actos execráveis, vítimas inocentes às mãos de centenas de padres e freiras... exactamente aqueles em que, por vezes, mais confiavam.

Quanto mais se levanta o véu que cobriu durante décadas a prática da pedofilia no seio da Igreja, de uma forma tornada quase natural, tal a quantidade esmagadora de casos, mais se percebe o papel encobridor e cúmplice das hierarquias da religiosas. Como se está a descobrir, não poucas vezes, em vez de afastarem ou punirem um sacerdote comprovadamente pedófilo, compravam o silêncio de vítimas e familiares, transferindo o predador para outra paróquia, onde, como seria de esperar, voltaria a atacar crianças e jovens.

Quanto mais se levanta o véu, mesmo tentando controlar o nojo, mais se percebe que a rede de cumplicidades e encobrimentos sobe ao topo da hierarquia, salpicando irremediavelmente até os “santos padres”, tanto os anteriores como o actual.

Perante este sufoco e as reacções pouco acolhedoras aos esfarrapados pedidos de desculpa do Papa Ratzinger e da própria Igreja, perante a óbvia falta de coragem e, sobretudo, vontade, de punir exemplarmente os criminosos e, para além de punir, ir fundo na reflexão sobre as causas desta histórica podridão moral, o que fazem o poderoso Vaticano e o seu chefe Ratzinger? Evidentemente, culpam os meios de comunicação social e os jornalistas, a quem acusam de «conspiração» contra a Igreja e de uma «campanha ignóbil com o único fim de manchar a reputação do Papa».

E assim, de uma penada, riscam-se do mapa milhares de vítimas, passando a existir uma única vítima a considerar: a reputação do Papa.

Afinal, como podemos ver, este tipo de “chefes” tendem a ser iguais. O universo é um deserto e tudo afinal se resume a eles próprios e à sua “reputação”. Quando vier de visita a Portugal, o senhor Ratzinger poderá aproveitar um dos seus possíveis encontros com José Sócrates, que não tendo evidentemente na sua colecção de percalços pessoais qualquer acusação de pedofilia, é, no entanto, um especialista em "reputação", um verdadeiro ás a detectar “conspirações”, um perito em “campanhas ignóbeis”, mestre em “cabalas”, “campanhas negras”, “assassínios de carácter”, etc., etc., etc., etc... e sabe tudo sobre os verdadeiros culpados: os jornalistas.

Podem sentar-se num cantinho os dois e “trocar cromos” durante umas boas horas.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Há coisas que realmente não se dizem...



Nota prévia: O vereador da Câmara Municipal de Lisboa, José Sá Fernandes é-me mais ou menos indiferente. Não é meu vereador e o seu (previsível) percurso político, que o levou de “independente” do BE a dependente do PS num abrir e fechar de olhos é um problema dele. O seu irmão, o mediático advogado Ricardo Sá Fernandes... faz pela vidinha. Já os “empreendedores” do tipo Domingos Névoa, dono da Bragaparques, são regra geral um asco.

Posto isto, a estória é muito simples. O “empresário”, há algum tempo e como é do conhecimento geral, tentou corromper o vereador José Sá Fernandes, oferecendo-lhe uma “pipa de massa” para obter umas coisas. O vereador não quis e com a ajuda do seu irmão advogado conseguiu provar em tribunal que o “empresário” é um corrupto e um vigarista. O tribunal condenou o “empresário” a pagar uma multa patética de 5000 euros. Talvez esmagado sob o peso brutal desta multa o homem da Bragaparques decidiu contra-atacar, processando por difamação o vereador, que no calor da refrega lhe tinha chamado bandido e o advogado Ricardo Sá Fernandes, que se referiu a ele como “corrupto e vigarista”.

Grande erro! O vereador lisboeta ainda se safou... mas o irmão advogado foi condenado pelo tribunal de Braga a pagar ao corrupto vigarista uma indemnização de 10.000 euros, exactamente por lhe ter chamado... corrupto vigarista.

Conclusão 1: Ser corrupto e vigarista dá lucro, mesmo quando é poucochinho, como neste caso.

Conclusão 2: Eu sei exactamente o que penso desta justiça, só que não me ocorre nenhuma maneira "publicável" de o escrever aqui.

Barack Obama e EUA - Rumo ao socialismo... quiçá ao comunismo...


“Obama tem uma receita para a América”
(Um dos cartazes da indigente campanha republicana contra a reforma na saúde)

Mesmo que não tenha ido além de um tímido arremedo de Serviço Nacional de Saúde, em que os primeiros a lucrar milhões serão os donos das seguradoras privadas, ao garantir, em vez de um serviço realmente público, o pagamento pelo Estado dos seguros de saúde de muitos milhões de norte-americanos pobres que até agora não tinham acesso a cuidados médicos; mesmo tendo deixado de fora alguns milhões de imigrantes que continuarão entregues à sua sorte e aos caprichos de quem os explora, a verdade é que esta “bandeira” de campanha que Barack Obama agora conseguiu fazer aprovar, é uma coisa positiva.

Infelizmente, não conseguiu convencer sequer todos os representantes e militantes do seu próprio partido, chamemos-lhe assim, “Democrata”. Previsivelmente, deixou absolutamente enlouquecidos os representantes e militantes do partido, chamemos-lhe assim, Republicano, que juram pelos seus antepassados, ironicamente todos emigrantes e quase todos pobres, que tudo farão para boicotar, declarar inconstitucional, etc., etc.... e o que mais lhes vier à cabeça, esta tentativa de SNS. Muitas gerações de educação e formatação para o mais abjecto individualismo paranoicamente egoísta deixam marcas, o que explica a relativa facilidade com que conseguem mobilizar contra esta medida social tantos cidadãos, mesmo alguns que acabarão por beneficiar dela.

Alguns destes “republicanos” na sua gritaria irracional, dizem que uma lei destas pode arrastar os EUA para o socialismo... ou mesmo para o comunismo. Isto prova a conhecida ignorância e profunda estupidez da direita estadunidense, que ao querer atingir o projecto de saúde de Obama com aquilo que consideram ser o pior insulto, acabam por lhe tecer o maior elogio.

De qualquer modo saúdo a (se não estou em erro) primeira medida concreta de Obama que me merece simpatia e que consegue ser mais do que um discurso bem lido. Já é alguma coisa, mas mesmo assim, porque não posso esquecer as guerras no Iraque, no Afeganistão, a prisão de Guantanamo, o abjecto bloqueio a Cuba, a criminosa aliança e protecção ao narco-fascista colombiano Álvaro Uribe, o papel miserável que os EUA tiveram no golpe militar nas Honduras, etc., etc., etc., ainda assim, como dizia, este passo positivo não é o suficiente para estragar uma das melhores e certeiras piadas que ouvi a um humorista americano, sobre o mandato de Obama, que livremente traduzido será mais ou menos isto:

- Cerca de 15 por cento dos americanos estão completamente de acordo com a actuação de Barack Obama, até aqui.
- Cerca de outros 15 por cento, estão completamente contra.
- Os restantes 70 por cento preferem esperar até que ele faça de facto alguma coisa para decidirem se concordam ou não.

Entretanto, mesmo em cima da hora de “publicação”, chegam-me notícias, boas notícias, através de duas fontes (para mim) absolutamente fidedignas, este blog e este jornal, que me dão conta do crescimento do inconformismo que dia a dia vai florescendo nos EUA, onde muitos milhares de pessoas, trabalhadores, estudantes, veteranos de guerra, mães de soldados mortos em combate e imigrantes, manifestam nas ruas a sua exigência de uma nova política.

Apesar da grande dimensão e profundo significado destas movimentações e manifestações, dou um doce a quem encontrar sobre isto relatos detalhados, ou pelo menos alguma referência “que se veja” na nossa comunicação social.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Um “vez” um, um; um “vez” dois, dois; um “vez” três, três: um “vez” quatro, quatro...



A situação no ensino não será brilhante... mas entretanto há escolas onde se faz tudo o que é possível para conseguir interessar a rapaziada na matemática e nas ciências.

Isto, claro, sem perder de vista as “humanidades”...

Goebbels... e os aprendizes



«Uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade». Esta frase é atribuída a Joseph Goebbels, o homem da propaganda de Adolf Hitler. A técnica tem tudo para resultar. As pessoas, na sua maioria, fixam apenas as frases de grande efeito, as parangonas dos jornais, as aberturas dos telejornais e, regra geral, dão muito maior crédito a um boato do que a um debate de ideias. Repetir uma mentira mil vezes é a forma ideal de criar o clima propício para uma quantidade de coisas que pareceriam improváveis, como "justificar" o extermínio dos judeus e a invasão de países soberanos. Ainda há bem pouco tempo assistimos a este fenómeno, com a “criação mediática” das armas de destruição massiva do Iraque.

Os nossos tristes aprendizes de Goebbels, do alto da sua extensa mediocridade, não querem exterminar judeus nem invadir nenhum país. Não. Os crápulas que nos governam querem apenas criar as condições que permitam justificar (entre muitas outras coisas) os cortes nos subsídios de desemprego. Segundo a sua teoria, os trabalhadores desempregados, se não receberem subsídio, ou se este for substancialmente cortado, serão forçados pela fome a procurar emprego. Só que ninguém sabe bem que empregos são esses e a "teoria" não passa de uma canalhice, servindo apenas para poupar uns euros que irão pagar as mordomias de outros... que bem conhecemos. Trata-se, como sempre têm feito, de tirar a muitos para entregar a poucos.

Como num universo de mais de 600.000 desempregados, o número que há uns dias decidiram inventar, os tais 13 mil empregos que os desempregados alegadamente rejeitavam, era demasiado ridículo, os nossos “goebbelzinhos” decidiram subir a parada e o tom da provocação feita aos trabalhadores. Agora, apenas alguns dias passados, os tais empregos que ninguém quer aumentaram como que por milagre para 58 mil.

Não adianta dizermos que o subsídio de desemprego é um direito e não um favor. Não adianta sabermos que muitos destes “empregos” que alguns “empresários” dizem que têm para dar e ninguém quer aceitar, não passam de conversa fiada e de sucedâneos da frase fascista «para quem quer trabalhar, há sempre trabalho». Não adianta denunciar o facto de uma grande parte destes supostos “empregos” não passarem de trabalho precário, ou simples burlas em que os trabalhadores serão enganados durante umas semanas e a seguir descartados, quantas vezes sem chegarem sequer a ser pagos. Não adianta apontar os milhares de portugueses que optam pela emigração, em número que já iguala o "êxodo" dos anos sessenta do século passado, como exemplo de quem quer trabalhar. Não adianta desmascarar o facto de ao patronato interessar exactamente este clima: um mar de desempregados a quem podem oferecer “empregos” precários e mal pagos... ainda por cima com o respaldo do Governo.

De nada adianta, porque aos governantes do partido que ainda tem o descaramento de se denominar socialista, o que interessa é criar o clima que obrigue os desempregados a aceitar seja o que for, aonde for, por que preço for. Para isso basta que os “pequenos goebbels” da propaganda repitam mil vezes a mentira de que os desempregados, afinal, não querem trabalhar. É o bastante para colocar trabalhadores ainda com emprego contra trabalhadores desempregados, numa manobra política abjecta, ainda por cima executada por uma "sindicalista" com cara de sonsa, que enverga vergonhosamente o título de Ministra do Trabalho e da Solidariedade Social.

Somos governados por calhordas!

quarta-feira, 24 de março de 2010

Progresso? - Um post (mais ou menos) verde



Um amigo dado às coisa do ambiente, ainda na sequência das nossas conversas sobre o dia “Vamos limpar Portugal”, desfiava um novelo de queixas sobre o estado calamitoso das nossas florestas, estado que, a não se fazer nada, terá resultados cada vez mais gravosos, seja pelo cada vez maior número de incêndios, seja pela desertificação e abandono, seja pela cultura intensiva de eucaliptos assassinos do solo, seja pelo desaparecimento das espécies autóctones de flora e fauna, seja...

E eu, interessado pelo tema e a gostar de ouvi-lo, mas que há dias em que pareço não conseguir levar um assunto sério até ao fim, disse-lhe que se acha que as florestas já não são o que eram... havia de ver no que deram o “Lobo Mau” e a “Capuchinho Vermelho”.

Sócrates & Jardim... porque sim!



Mesmo sabendo que qualquer referência a José Sócrates ainda faz salivar os pavlovianos comentadores que automaticamente reagem com insultos (por entre a baba) a tudo o que aqui escrevo sobre ele, sobretudo os menos inteligentes, que ainda não entenderam esta coisa da moderação dos comentários... a verdade é que de vez em quando, tem que ser.

De qualquer forma, embora Sua Excelência o Presidente do Conselho faça parte da estória de hoje, o protagonismo vai todo para esse outro grande estadista que é Alberto João Jardim. Diz o grande líder madeirense, tentando dar a entender que está a falar de uma nova etapa nas relações com José Sócrates, por causa do apoio que o Governo da República garantiu à Região Autónoma da Madeira, que, mais palavra menos palavra, «Serei aliado de Sócrates, nem que seja contra o PSD».

Algum transeunte mais distraído poderia pensar que esta era uma nova versão de um Alberto João agradecido e pacificado com Sócrates. Nada mais errado! Alberto João Jardim está apenas a aproveitar-se da solidariedade nacional e da desgraça de muitos madeirenses, para dinamitar e provocar o seu próprio partido, com que anda de candeias às avessas, o que confirma pelo menos duas coisas:

1. Alberto João Jardim é (como se fosse necessário confirmar!...), politicamente, um porco!

2. Daqui para a frente, Sócrates poucos mais “apoios” conseguirá para além dos deste género... os únicos que realmente merece.

terça-feira, 23 de março de 2010

A morte que se bebe



Ontem passou mais um Dia Mundial da Água. Discretamente, a mostrar que os “dias mundiais” disto e daquilo servem para pouco mais do que gerar dois dias de conversas de ocasião sobre os assuntos e algumas poucas boas intenções.

Entretanto, a situação não é animadora. Como se não bastasse o facto de a água potável ser um bem escasso, ou mesmo inexistente em algumas regiões, como se não bastasse o crime continuado de existirem governos que utilizam a escassez de água como arma, cortando-a ou deixando-a correr a conta gotas, a seu bel-prazer, como (só a título de exemplo) o governo de Israel faz aos palestinianos, como se não bastasse tudo isso, o que já seria demais, temos que assistir à incúria ignorante ou conscientemente criminosa, que por todo o planeta envenena, inquina, destrói as escassas reservas de água própria para consumo humano, polui rios, lagos, oceanos.

Daí que hoje seja um facto estabelecido a tragédia humanitária de vermos, por exemplo, que o número de crianças mortas pelo consumo de água imprópria é superior ao número de crianças vítimas de guerras. Quase dois milhões de crianças com menos de cinco anos, todos os anos. Para além dos vários milhões de jovens e adultos vitimados por doenças ligadas ao consumo de águas contaminadas.

Na esmagadora maioria dos casos, bastaria bom senso, luta efectiva contra a miséria, boa governação e investimentos comprovadamente acessíveis à economia mundial, para reverter esta situação... o que nos mostra que a justiça é um bem ainda mais escasso do que a água potável.

Super Mário (Lino)





Não vou ficar para aqui a tecer teorias sobre as relações que um ministro das obras públicas tem ou não que ter com as empresas que de alguma forma dependem do “estado de humor” do seu ministério, mas é fácil imaginar que essas relações, quando se trata de uma gigantesca empresa cimenteira, poderão estender-se a muitas centenas de grandes obras, valendo muitos e muitos milhões...

A fazer fé nesta notícia, o ex-governante, que ainda há bem pouco tempo deixou a pasta do Ministério da Obras Públicas, Mário Lino (ainda envolvido na trapalhada do “Magalhães”), “poderá” estar a caminho da administração da CIMPOR, por indicação do governo, através da Caixa Geral de Depósitos.

Se for verdade... chiça que o homem é rápido!!!

segunda-feira, 22 de março de 2010

Alfredo Dinis "Alex"


“Tipografia clandestina” – Gravura de José Dias Coelho

Alfredo Dinis “Alex” foi um jovem militante e dirigente do Partido Comunista Português, no tempo em que isso podia custar a vida. Foi o que lhe aconteceu, apenas com 28 anos de idade, a 4 de Julho de 1945, quando foi assassinado por Salazar.

Quem conhece a sua história não necessitaria deste post... mas quem não conhece não perde nada em ficar a conhecer mais um exemplo de “quanto custou a liberdade”. Aqui fica o anúncio de uma boa oportunidade para o fazer:

Ciclo de cinco debates sobre o Alex e o Partido e a importância dos dois na vida nacional, nas lutas operárias e no Concelho de Loures.
O ciclo de debates acabará com um comício, a 4 de Julho, na localidade onde, exactamente há 65 anos, Alex foi assassinado pela PIDE. No primeiro debate será apresentada uma brochura com informação e documentos sobre Alex. Todos os debates serão acompanhados por uma exposição relativa a Alex.

27/3: Loures, Palácio dos Marqueses da Praia e Monforte, 16h.
Convidado: Domingos Abrantes
Tema: Contexto Histórico

24/4: S.Julião do Tojal, Bombeiros do Zambujal, 16h
Convidado: Albano Nunes
Tema: Organização do Partido

8/5: Santa Iria de Azoia, Casa da Cultura, 16h
Convidado: José Ernesto Cartaxo
Tema: Lutas Operárias

29/5: Sacavém, Sport Grupo Sacavenense - Sede
Convidados: Conceição Matos e José Casanova
Tema: Forças Repressivas e Resistência

19/6: S. Antão do Tojal, Grupo União Lebrense, 16h
Convidado: Gustavo Carneiro
Tema: Imprensa

4/7: Bucelas, Bemposta, G.M. e R. da Bemposta, 15,30h
Comicío com Jerónimo de Sousa, seguido de romagem ao Memorial ao Alex, na Estrada da Bemposta.

José "Forrest Gump" Sócrates Pinto de Sousa



Já que o primeiro ministro, durante umas declarações a propósito da Meia Maratona de Lisboa, ensaiou uma piada (involuntariamente?) dizendo que tinha «muito prazer em atravessar a ponte a pé»... eu sinto-me à vontade para também só por graça, evidentemente, dizer que estava na esperança de que este ano fosse “ao estalo”...

domingo, 21 de março de 2010

Mais uma promessa não cumprida!



Admito que a coisa possa ter tido os seus momentos, aqui e ali, ao longo do dia de ontem. De qualquer maneira, ou eu não entendi bem o princípio da coisa, ou, quem sabe, criei expectativas muito exageradas em relação a esta estória do “Vamos limpar Portugal”... ou então isto foi mesmo um grande fiasco.

É que, até à hora em que estou a escrever isto, o Governo de Sócrates continua em funções!!!

Monika Leskovar - Uma espécie de abraço...



Quando há uns dias divulguei aqui a belíssima guitarrista Ana Vidovic, chamei a atenção para uma sua “cúmplice” musical que no segundo vídeo, gravado quando as duas não teriam mais que 11 ou 12 anos de idade, ameaçava vir a ser violoncelista, tal o empenho que punha no “percurso”. Disse então que voltaria a falar dela. É hoje.

Chama-se Monika Leskovar. Croata, embora nascida na Alemanha, em 1981. Ao contrário da sua amiga guitarrista, que aposta num instrumento e reportório em que apenas necessita de uma cadeira, um microfone... e público, a Monika, com o seu violoncelo, integra-se em orquestras, grupos de câmara, formações e projectos diversos. A sua carreira, desde o princípio, é um desfilar de prémios e um mar de prazer para os sentidos de quem tem a sorte de se encontrar com a sua arte.

Escolhi um vídeo em que está quase sozinha em palco... se é que se pode estar “quase sozinho” quando acompanhado por uma pianista do calibre desta Petra Gilming, com que partilha esta peça musical.

A Monika Leskovar toca com um violoncelo Vincenzo Postiglione, de 1884, que lhe foi entregue pela cidade de Zagreb e pela Filarmónica de Zagreb. Em boa hora o fizeram!

Bom domingo!

“Rapsódia Concertante – 3. Dança” – Monika Leskovar
(B. Papandopulo)

sábado, 20 de março de 2010

José Sócrates – Anedota reciclada








Já todos ouvimos contar pelo menos uma das muitas versões da anedota “Quantos ***** são precisos para mudar uma lâmpada?” A adaptação evidente da batida piada para o nosso Primeiro Ministro é:

- Quantos Sócrates são precisos para mudar uma lâmpada?
- Um. Enquanto segura a lâmpada o mundo todo gira em volta dele...

O mundo pode estar a arder e as pontes a ameaçar derrocada que toda e qualquer pergunta que se lhe faça sobre o assunto tem como único objectivo insultá-lo ou atacá-lo pessoalmente. Mais ainda, a esses modernismos, tipo Comissões Parlamentares de Inquérito, nem dirige a palavra, pois só responde no Parlamento, onde vai de 15 em 15 dias.

Sinceramente... depois de tantas provas dadas, alguém ainda esperaria outra resposta deste PM, que fosse, sei lá, menos demagógica, arrogante... e mentirosa?

Manuela Ferreira Leite – Profundidade ideológica


A Dona Manuela Ferreira Leite detesta Pedro Passos Coelho. Como não possui um discurso político que possa sustentar e ilustrar esse pequeno “ódio”, extravasa-o em frases indigentes como esta:


Desta vez acho que a senhora está carregada de razão. O PPD-PSD fez isso, na última eleição... e olha no que deu!

TAP – Vislumbres fascizantes





Nota prévia 1: Quero aqui confessar que não nutro grande simpatia por alguns dos posicionamentos dos pilotos da TAP. Mesmo tendo noção de que as qualificações e responsabilidades de um piloto de uma linha comercial são muito diversas das que são exigidas a um funcionário encarregado do transporte das bagagens, mesmo assim, quando alguém que já ganha 5.000 euros desencadeia uma guerra por uma diferença de uns poucos euros entre o que lhe é proposto e aquilo que exige, a minha solidariedade tende a “divagar”...

Nota prévia 2: Já não será esta a primeira vez que digo estar convencido de que a vinda de brasileiros aos milhares para Portugal, foi uma coisa boa. Porque são gente de bem, que faz o que pode pela sua vida, dos filhos, da família que lá deixou; porque alegram os nossos ouvidos com a música contagiante do seu “pórtuguêis”... etc., etc., etc.

Dito isto, claro que há excepções, tanto nas greves dos pilotos, como nos brasileiros que nos tocam. Em relação a estes últimos, desenvolvi uma alergia muito especial a um certo tipo de igrejas "tipo Universal", de que o bispo Edir Macedo é o símbolo máximo, aos gangs de traficantes que se mudaram de armas (literalmente) e bagagens para a Costa de Caparica (e não só) e do paspalho que preside aos destinos da TAP, um tal Fernando Pinto. É evidente que não sou alérgico a todos estes espécimes por serem brasileiros, mas sim por serem o que são: os primeiros, simples ninhos de vigaristas; os segundos, vulgares assassinos e o último, um aldrabão sobreavaliado, principescamente pago e, principalmente, um fascistóide... o que fecha o círculo do que escrevi até aqui, para nos deixar na TAP.

Há dias, perante a ameaça de mais uma greve na companhia aérea, Fernando Pinto, talvez porque a sua missão ali já se limite a criar as condições de caos social e laboral que “justifiquem” a rápida privatização da empresa, lançou gasolina na fogueira da luta laboral, com uma provocação em tom arruaceiro e ultra-reaccionário, dizendo que as greves eram uma coisa do século passado... isto entre outras baboseiras.

Agora, aparece uma convocatória por mail anónimo, mobilizando os trabalhadores da TAP para se manifestarem contra os pilotos e a elite, acusando-os de tudo e mais alguma coisa, apelando ao pior de um certo tipo de trabalhadores, aqueles que se alimentam de inveja, despeito, ignorância, ódio pelos sindicatos, desprezo pela política. Fá-lo num texto em que parece estar a defender interesses legítimos de alguns trabalhadores, mas a linguagem fascistóide perita em provocações divisionistas, denuncia fatalmente a possível origem do documento.

Não vou ao ponto de dizer que é um texto saído do ministério da tutela, ou das mãos de um qualquer rafeiro da administração... mas ficar a pensar nisso, fico.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Barack Obama - O verdadeiro artista é aquele que se anuncia



Ainda sou do tempo em que a produção, agenciamento e organização de espectáculos musicais por esse país fora estava a cargo de “empresários” ainda mais manhosos do que alguns dos de hoje. Uma das técnicas de “marketing” para os espectáculos era anunciarem a presença de artistas que já tinham dito que não estavam disponíveis ou mesmo de alguns que nunca tinham sido contactados. Depois, quando esses nomes “principais” do cartaz não apareciam, ou havia uma desculpa muito bem contada, normalmente envolvendo a saúde do artista ou de algum membro da família... ou o coitado ficava com a fama de ter faltado sem dizer água vai. Aconteceu-me assaz!

Agora a vida está mais difícil para esses imaginosos promotores de eventos. Tudo se sabe, instantaneamente e em todo o mundo... como bem demonstra esta notícia, onde porta-vozes da Casa Branca afirmam não ter a mais pálida ideia de como é que os media portugueses se convenceram de que Barack Obama estaria em Portugal no próximo mês de Novembro, para participar extensamente numa cimeira da Nato e ainda ter encontros com Cavaco Silva e José Sócrates.

Mesmo com toda esta antecedência (e lembrando os tais espectáculos de província), é mais que certo que o coitado do Obama, que nem deve saber muito bem onde fica Portugal, tem programada para Novembro uma ida de “emergência” ao hospital... por causa de uma forte dor de dentes... ou algo assim.

Comissão Parlamentar de Inquérito - Pescadinha de rabo na boca...



Tomou posse, finalmente, a nova Comissão Parlamentar de Inquérito. Entre outras coisas, vai investigar se o Primeiro Ministro mentiu (ou não) no Parlamento, quando disse desconhecer o negócio PT/TVI. Para isso, talvez venha a chamar o próprio a prestar declarações perante a Comissão.

E se José Sócrates agora voltar a mentir (ou não) à Comissão... mesmo que seja por escrito? Quem investigará as suas declarações? Hein?

Que fazer?

“Diz nessa altura a sardinha prá tainha:
Sabe a última do dia? A pescadinha, já louca,
Meteu o rabo na boca,
O que é uma porcaria!”

(Excerto do fado “Caldeirada”, de Alberto Janes, cantado pela grandiosa Amália)

quinta-feira, 18 de março de 2010

No comboio descendente *



Tenho um amigo apaixonado por estatísticas, curvas ascendentes e curvas descendentes. Para ele, todas as realidades da vida se encaixam nos seus gráficos. Ontem, durante uma conversa de café, decidiu incluir José Sócrates numa das suas curvas descendentes.

Afirma ele, em defesa do Primeiro Ministro, que este mente cada vez menos.

Como assim? – perguntei eu, incréu.

Então... – responde-me ele - há uns anos prometeu 150.000 postos de trabalho; antes de ontem já só prometeu 120.000. Se isto não é mentir cada vez menos...

Perante a indestrutibilidade de uma tal lógica, fiquei esmagado!

"No comboio descendente
Vinha tudo à gargalhada.
Uns por verem rir os outros
E outros sem ser por nada
No comboio descendente
De Queluz à Cruz Quebrada..."

(Fernando Pessoa/José Afonso – “No comboio descendente”, in “Eu vou ser como a toupeira”)

* Com um grande “olá!” para o Zeca!

quarta-feira, 17 de março de 2010

Sócrates - Espero que compreendam...


Sejamos francos. O primeiro Ministro subiu ao palanque para dizer uma data de “coisas”... ora eu, praticamente já não acredito numa palavra que ele diga. O Primeiro Ministro anunciou a criação de 120.000 postos de trabalho... ora eu, não consigo esquecer-me dos "outros" 150.000. O Primeiro Ministro anunciou umas inaugurações para daqui a uma enormidade de anos... ora eu, também tenho planos e sonhos para o futuro, mas confesso que praticamente nenhum deles coincide com os de Sua Excelência o Presidente do Conselho.

Assim, é muito natural que (para mim, claro) o único momento interessante da cerimónia, que aqui deixo para verem, ou reverem, tenha sido esta apresentação de Sua Excelência, mesmo que um pouco, vá lá... “trocada”.

Espero que compreendam...

Armando Vara – Pago ao quilómetro...



Disse há tempos o incrível, mas infelizmente (ao que parece) não “impagável”, Armando Vara, que mal conhecia o empresário ovarense das sucatas e que, a ter recebido alguma lembrança do homem, não teria passado de uma caixa de robalos.

Versões contraditórias têm alguns magistrados do Ministério Público, para quem o ex-político e actual banqueiro, faz parte da lista de «prendas de maior importância». Acrescentam (para mim, já no gozo) que a linguagem cifrada na pergunta de Manuel Godinho, «quer para agora os 25 quilómetros?», a que Vara terá respondido «fica para depois», acrescida das desculpas esfarrapadas para os significados da pergunta e da resposta, lhes lembra o calão dos traficantes de droga, quando falam de transacções de lençóis da branca (heroína) e da escura (cocaína)... sendo que já houve quem tentasse convencer os investigadores de que isso tinha que ver com negócios de têxteis.

Talvez a coisa não passe de uma caixa de robalos... que entretanto certamente apodreceram, tal é o cheiro que vem daquelas bandas de cada vez que se sabe mais algum pormenor da estória. Ou então, Armando Vara era mesmo pago ao quilómetro... o que acaba por ser uma coisa boa e uma importante poupança. Já imaginaram se fosse à milha marítima? Uma fortuna!!!

terça-feira, 16 de março de 2010

PEC – Com amigos como este...



O PEC, “programa-não-sei-de-quê-mais-não-sei-quantos”, é um amontoado de mentiras, de ataques àqueles que mais castigados são com a crise, um convite à resistência e luta, cheio de “medidas” muito justamente contestáveis.

Para saber a bela trampa que é este PEC, bastaria ler este título de um dos jornais que deram a notícia:


Alguém ainda quer alguma coisa de que Durão Barroso goste? Ou, como cantou o Fausto,

“Faz lá como tu quiseres (4x)
Folha seca cai ao chão
Eu não quero o que tu queres (4x)
Que eu sou doutra condição”

(Fausto – “Uns vão bem e outros mal”, in “Madrugada dos Trapeiros” - 1978

França – Eleições regionais e vergonha




Como já sabemos, a primeira volta das eleições regionais francesas ditaram a vitória provisória do Partido Socialista e a derrota da UMP, o partido de direita do Presidente Nicolas Sarkozy. Para além disso, mais uma vez, cavalgando a crise generalizada e a ignorância, a Frente Nacional, o partido do fascista e simpatizante nazi Jean-Marie Le Pen, que considera os campos de concentração e o Holocausto meros “detalhes”, partido que alicerça toda a sua luta política no ódio xenófobo, no racismo, na perseguição, discriminação e agressão física dos imigrantes e seus descendentes, mesmo que estes sejam já franceses por nascimento, teve uma votação importante.

Houve candidatos portugueses, ou luso-descendentes, em todas as formações políticas importantes no cenário da política regional, incluindo obviamente o PCF.

Li algures declarações de um dirigente de uma associação de imigrantes portugueses que se dizia envergonhado por ver portugueses a participar nas listas do fascista Le Pen. Também eu fico envergonhado!

Manda o pluralismo e abertura de espírito democrático que eu considere os portugueses e luso-descendentes que participaram e foram eleitos nas listas do PS, da UMP, ou do PCF, como aquilo que são: cidadãos livres e interessados em intervir no destino da sociedade em que vivem, sendo, muito naturalmente uns, socialistas, outros “sarkozystas”, outros comunistas.

Já quando chego à Frente Nacional, o meu pluralismo sofre (sem remorso) uma quebra bastante abrupta que me leva a dizer que esses portugueses e luso-descendentes que concorrem e são eleitos pelo partido fascista de Le Pen, não passam de uma pouca de bosta que se esqueceu das suas raízes, ou que não esqueceu mas traiu, desonrando os pais e avós e faltando ao respeito a todos os seus compatriotas que ainda hoje, sempre que uma ocasião se apresenta, são insultados, agredidos, pontapeados no chão, debaixo de gritos de “sale portugais” (português sujo) pelas milícias fascistas de Le Pen.

Tal como o nosso amigo emigrante/imigrante da tal associação, quem não se sentiria envergonhado?

segunda-feira, 15 de março de 2010

Lei da rolha – Afinal quem é que a votou?



Regressemos ao Congresso do PPD-PSD e à famosa “lei da rolha” que tanto excita comentadores políticos e políticos comentadores. Para além de Manuela Ferreira Leite, que raramente tem noção do que diz quando lhe enfiam um microfone à frente da cara e de Santana Lopes que foi o “inventor” da coisa, não há ex-dirigente, futuro dirigente, ou ex-futuro dirigente do PPD-PSD que não esteja contra a coisa.

Passemos por cima da idiotia que é o facto de tanto os “laranjas” em congresso, como os “rosas” que vêm demagogicamente acenar com “estalinismos” e fazer trocadilhos oportunistas com a “claustrofobia democrática”, não saberem que tanto nos estatutos (links copiados do "O tempo das cerejas") de um como do outro partido já existem normas para castigar, fustigar, vilipendiar, despentear ou mesmo expulsar os militantes "recalcitrantes". Passemos igualmente por cima do facto de que, mais nuance menos nuance, a generalidade dos partidos tem, muito naturalmente, normas disciplinares que prevêem estes casos.

Mesmo assim, atendendo à geral condenação por parte dos candidatos social-democratas, desta “lei da rolha”; atendendo ao facto de que todos os candidatos estavam presentes nos trabalhos do Congresso; atendendo ao facto de que (pelo menos era o que parecia...) uma grande parte dos delegados eram afectos às hostes dos vários candidatos... uma pergunta impõe-se:

Quem raio era aquela gente que votou por larga maioria a adopção de uma norma contra a qual todos agora parecem estar?

PPD-PSD... um belo cabaz...



Uma nota prévia apenas para dizer que apesar de entender as razões pessoais que levam Santana Lopes a propor, defender e fazer aprovar em Congresso uma “lei da rolha” que proíbe os militantes social-democratas de discordarem publicamente do partido e atacarem o líder, dois meses antes de actos eleitorais, sob pena que pode ir até à expulsão e da espessa estupidez e vasto preconceito político que levaram uma jornalista a dizer-lhe «mas nem o PCP tem isso escrito»... apesar de tudo isso, como dizia, pago para ver aquele saco de gatos, durante dois meses antes de eleições, com todos eles lá dentro, unidos, cordiais e cheios de mútua lealdade.

Agora sobre o Congresso propriamente dito, pondo de parte os Jardins e outros cromos que mesmo querendo, não conseguem passar de arruaceiros ou números de revista, adorei ver todos os “mais ou menos notáveis” a fazer de conta que gostam imenso uns dos outros, encenando aquela espécie de “valsa palaciana”, quando todos sabemos que a dança que lhes vai bem é a “quadrilha”... o que nos leva até este vídeo, com uma ilustração de um pequeno poema de Carlos Drummond de Andrade e que termina com uma curta animação musical a cargo do Chico Buarque... muito a propósito.

“Quadrilha” – C. Drummond de Andrade e Chico Buarque
(Carlos Drummond de Andrade/Chico Buarque)

domingo, 14 de março de 2010

Silva Lopes – O desgostado





A julgar pelo que li no “O tempo das cerejas”, um blog onde vou regularmente em busca de lucidez (e boa música), o Vítor Dias viu praticamente as mesmas partes que eu vi do “Plano Inclinado” e “achou graça” à mesma frase que eu também destaquei da lengalenga do costume.

Segundo um dos convidados, o parasita Silva Lopes, desavergonhado acumulador de pensões e prémios milionários, as nacionalizações que se seguiram ao 25 de Abril, até tiveram o seu acordo... mas depois, desgostou-se das ditas por ter descoberto que afinal (mais palavra menos palavra) «os trabalhadores ficavam com a totalidade dos dividendos das empresas para si» e o Estado acabava sempre por ter que pôr dinheiro nessas empresas.
Isto leva-me a duas, digamos, considerações... e uma pergunta:

1. Convivi com dezenas e dezenas de trabalhadores de empresas nacionalizadas, como bancos, seguradoras, estaleiros navais, siderurgias, grandes indústrias metalo-mecânicas, etc., etc.... e confesso o meu espanto por nunca ter percebido que eles andavam todos a enriquecer. Que bem que os trabalhadores conseguiram esconder os Ferraris, os Porsches e os Iates!

2. Considero a violência entre humanos uma coisa condenável e muito feia. Já para a chamada “Justiça Divina”, que tantos insistem que existe, a violência não parece constituir um grande problema, nem agora, nem ao longo dos últimos Séculos.

Sendo assim, porque diacho é que quando estes trastes aparecem em público debitando frases destas, não desce dos céus um raio que lhes parta os dentes?

Jean Ferrat – “Cest un joli nom...”



Ontem, com 79 anos de vida, deixou-nos. Chamava-se Jean Ferrat. Filho de pai imigrante, um judeu de origem russa, viu-o ser deportado e assassinado em Auschwitz. Foi "poupado" a uma morte certa pela acção e protecção de membros do Partido Comunista Francês, camaradas de seu pai. Permaneceu ao lado do PCF durante toda a vida. Enorme compositor e cantor de uma certa música francesa que soube e mereceu ser a banda sonora de muitos e grandes sonhos colectivos.

Muitos desses sonhos estão por cumprir. Até lá continuaremos a cantar e a “amar até perder a razão”...

“Aimer à perdre la raison” – Jean Ferrat
(Louis Aragon/Jean Ferrat)

sábado, 13 de março de 2010

Grandes títulos, pequena “História”




Antes que alguém pense que algo me move pessoalmente contra a senhora Irene Flunser Pimentel, repito que não. Se a senhora conseguiu com três ou quatro livros o estatuto de “grande historiadora do regime” ainda bem para ela. Como o conseguiu e a troco de quê, interessa-me muito pouco.

De qualquer maneira, este regresso à historiadora da moda não se prende com a pessoa, como já disse, mas com um pequeno pormenor do seu mais recente livro, desta vez de “histórias” sobre o cardeal Cerejeira, parceiro privilegiado daqueles que impuseram 48 de fascismo e repressão em Portugal.

A técnica é antiga. Todos os dias a vemos aplicada em parangonas de jornais e anúncios televisivos com “resumos” dos telejornais. Todos os donos de órgãos de comunicação social sabem muito bem que a esmagadora maioria dos portugueses apenas ouve os resumos com as principais “notícias” dos telejornais e muda imediatamente de canal, assim como a não menos esmagadora maioria dos “leitores” de jornais se fica pelos grandes títulos das capas que vê de passagem, dos jornais estendidos nos quiosques e papelarias. Independentemente do que o jornalista queira, ou seja obrigado a escrever lá dentro, no corpo na notícia, o que conta realmente, aquilo que vai ficar na retina do “leitor/transeunte” é o que estiver escarrapachado nos títulos. Assim, esta é a melhor maneira de fazer passar para o público seja que mentira for, seja que calúnia for, seja qual for o tamanho do embuste e da demagogia... o que me traz de volta ao livrinho da senhora historiadora, que leva por título “Cardeal Cerejeira – O príncipe da Igreja”.

E aí está! Independentemente de tudo o que possa estar escrito no livro, esteja certo ou errado, verdade ou mentira, seja discutível ou não, aquilo que contará para a tal esmagadora maioria é o que está estampado na capa... e essa, diz-nos que o Cardeal Cerejeira foi "O Príncipe da Igreja". Ora, isso só pode ser uma coisa muito boa, não é?