segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Óscares - “Inside Job” (A verdade da crise)


A cerimónia de entrega dos Óscares deste ano teve vários momentos interessantes. Se fosse crítico de cinema teria matéria para umas boas páginas; não sendo o caso, fico-me por um pequeníssimo “pormenor” da festa que, dado o limitado “glamour” dos documentários no meio de tal aglomerado de estrelas, poderia passar despercebido.
O Óscar para melhor documentário foi atribuído a "Inside job", de Charles Ferguson e Audrey Marrs, um trabalho que pretende ser um retrato do lamaçal, da podridão, da pulhice e dos crimes que estão na origem da “crise financeira” que ainda atravessamos e sofremos.
Antes de agradecer a toda a gente, como é norma nestas alturas, Charles Ferguson optou por começar o seu discurso dizendo: «Perdoem-me, mas eu preciso começar dizendo que, três anos após a horrível crise financeira causada por uma grande fraude, ainda nenhum executivo foi para a cadeia. E isso está errado!»
Claro que alguns dos presentes o ovacionaram, outros fizeram de conta... mas isso não altera a crua verdade do que ele disse: não há condenados, se exceptuarmos o caso particular de Bernard Madoff, que não passando de um ladrão comum, curiosamente, diz que os bancos - e logo, os seus gestores - foram seus “cúmplices”.
Seja como for, gostei!

Sócrates – Agitar... e já está!


«Nós não queremos já investir naqueles sectores que competem apenas com base nos baixos salários. Nós queremos investir naqueles sectores que garantem a todos os portugueses um maior valor acrescentado, que garantem à nossa economia um aumento do nosso Produto Interno Bruto, mas que garantam a todos os portugueses melhores salários e melhores condições de vida. É esta a linha política e económica de um partido à altura das suas responsabilidades, como é o Partido Socialista» (José Sócrates).
Ora aí temos o “novo” Sócrates, numa fantástica manifestação de “socialismo instantâneo”, seguindo a grande tradição dos pudins “Royal” e “Boca Doce”!
De qualquer forma a culpa foi inteiramente minha, que não aprendo a estar quieto com o controlo da televisão! A verdade é que este vício acabou por me fazer “pisar” declarações de Sócrates, por mais do que uma vez durante o fim de semana... que depois dão uma trabalheira a limpar.
Para além da transcrição com que comecei, ainda podem ver-se, espalhadas pelos jornais várias, outras pérolas, como referências ao «partido que mais tem defendido os portugueses», ou que «nunca sacrificou os interesses do país», ficamos a conhecer o denodado combate de Sócrates às «ameaças de crise política e às especulações sobre instabilidade que têm surgido frequentemente pelos partidos de direita», com os quais, curiosamente, o PS tem andado coligado constantemente nas últimas décadas.
Ficamos ainda a saber que, desta vez, o PS deixa cair a regionalização... por falta de condições. Tem sido assim desde 1976... e infelizmente não apenas quanto à regionalização: o PS, o PPD-PSD e o CDS nunca têm tido “condições” para respeitar e cumprir a Constituição!
Não fosse o facto de o primeiro-ministro estar a falar para uma plateia preenchida quase na totalidade por uns tantos socialistas (que se ficam), mais um punhado de sociais-democratas (que se ficam), uma catrefada de neoliberais (seus fãs incondicionais) e aquela grande massa amorfa de “luises amados” que estão sempre bem com quem estiver no poder (apenas enquanto estiver no poder!), mais o cortejo de “boys” agradecidos... e ninguém o salvaria de apanhar com um bom par de sapatos, vários panos encharcados, ou, pelo menos, uns bons apupos, como sempre acontece de todas as vezes em que aparece em público, mas em situações em que os seus seguranças não lhe conseguem garantir um “ambiente” cem por cento controlado.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Pedro Guerra e Julieta Venegas – “Meninos”


Julieta Venegas é uma jovem mexicana, já com uma bela carreira (desconhecida por cá) e um dos nomes a reter entre os criadores e intérpretes da nova música inteligente daquele país.
Pedro Guerra é um espanhol das Canárias, também autor e intérprete. É uma das "coisas boas" que aconteceram na música dos nossos “vizinhos” nos últimos anos. Pela idade, pelas influências musicais que não esconde, pela proximidade artística e pessoal com um punhado de “cantautores” daquelas bandas, a que costumo chamar os “filhos” galegos, catalães, bascos, castelhanos ou andaluzes do nosso Zeca (que por vezes me parecem em bastante maior número do que os de cá), o Pedro Guerra será como que uma espécie “neto” de José Afonso... portanto, ainda meu “parente”.
Acompanhada de uma das minhas “traduções à moda da casa”, proponho-vos esta canção que magoa, num vídeo em que o Pedro e a Julieta nos cantam os meninos de rua do Rio de Janeiro e da Colômbia.
Boa audição, boa leitura, bom domingo!
Meninos
(Pedro Guerra)

A trinta pisos de altura, frente à praia de Copacabana, a rua cheira a humidade, a fruta, sexo, bronzeador e cachaça. A trinta pisos de altura vejo a vida que me olha e passa, bebendo água de coco, frente à praia de Copacabana.
Quando derem as dez, não voltarão para casa. Ficarão ali... não voltarão para casa. Quando derem as dez, os meninos da praia ficarão ali, não voltarão para casa. Como os automóveis, os candeeiros públicos, como os gatos e as calçadas, como as lojas e as caixas de correio, como lixo pelos cantos, como os cães, tentando viver... vivendo.
Desde a asfixia e a altura vejo o medo da cidade adormecida. Nada se intui, no ar, sobre a violência em que tudo gira. A Colômbia avança e o mundo não sabe nada... e se sabe, esquece... e tudo continua girando. Morrer diariamente é parte da vida. Filho da dor, que se pendura nos automóveis e respira a escuridão crescente da noite. Filho da noite sem nada a que agarrar-se... perdido na cidade, já é parte da paisagem... como os automóveis.
A muitas horas de casa olho a luz da cidade torcida, a imensidade do bairro, a multidão que respira o ar poluído. A muitas horas de casa outro olhar nos observa... a “Serpente emplumada” ficou presa e agora é luz cativa.
Filho da dor fazendo piruetas a troco de migalhas ou moedas. Filho da dor, que brinca a fazer-se de grande, ausente do amor, já é parte da rua... como os automóveis.

"Niños" - Pedro Guerra/Julieta Venegas
(Pedro Guerra)

sábado, 26 de fevereiro de 2011

O império dos sentados


Alguns dos nossos generais, aos primeiros sintomas de uma nova guerra, aparecem imediatamente, inquietos para participar bravamente... comentando! São os célebres “generais sentados”, sempre desejosos de exibir conhecimentos tácticos e os seus «brinquedos caros e inúteis», como certeiramente (e independentemente das suas reais motivações) os classificou um ex-embaixador dos EUA em Portugal... mas isso é outra estória.
Os nossos “generais sentados” fazem coro com alguns politólogos e especialistas em conflitos. Estão sempre prontos a fornecer graciosamente os seus “cenários de guerra”. Têm-nos para todos os gostos. Estão constantemente a fabricá-los... ora com chávenas a fazer de blindados, colheres de sobremesa a fazer de mísseis e restos de croissant a fazer de soldadinhos, ora com os muito mais “reais” modelinhos de chumbo... dependendo de os criarem na mesa do pequeno almoço, ou no quartinho dos brinquedos. Os “generais sentados” são eles próprios um brinquedo caro e inútil!
Generais e politólogos especialistas já defendem abertamente uma intervenção militar internacional na Líbia. Humanitária, evidentemente... não vá algum telespectador não entender as suas nobres motivações.
Tendo na memória o sentido da esmagadora maioria das posições políticas destes “heróis” da guerra sentada feita em estúdios de televisão, não duvido, nem por um momento, das suas intenções “humanitárias”.
Toda a gente sabe que o petróleo é um “ser humano” muitíssimo delicado, que dificilmente suporta agressões. Então se estas agressões forem acompanhadas do extremo “nervosismo dos mercados”... é preciso e urgente intervir, rapidamente e em força!

Realidades virtuais, acidentes... ou democracia viciada?


A notícia é curta e aparentemente pouco importante. Um jornal espanhol, simpatizante do Real Madrid, para reforçar a ideia de um fora de jogo de um jogador do Barcelona, apagou de uma fotografia o jogador adversário (Atlético de Bilbau) que poderia pôr em causa a “evidência” do tal fora de jogo. Como foram denunciados pela realidade... pediram “desculpa” aos leitores pelo “erro gráfico” ocorrido na edição de imagem... como se partes específicas de uma fotografia pudessem “apagar-se” por si!
Acontece que também eu sei brincar com o famoso programa de tratamento e manipulação de imagens, o Photoshop. Assim, passarei a fazer o relato dos vários “erros gráficos” que ocorreram com uma fotografia de um momento de um jogo entre Benfica e Porto, enquanto eu estava entretido a mexer no tal Photoshop.
Foto 1: Nesta imagem, que juro ser a original, estão um jogador do Porto e um do Benfica. Se considerarmos que para cá (para baixo) da linha branca é a grande área do Benfica (e não há, fora da nossa vista, nenhum jogador do Benfica entre o guarda-redes e estes dois), a interpretação da jogada é a seguinte: o jogador do Benfica olha para cima e tenta interceptar a bola com a cabeça; se o conseguir, é um bom corte; se não conseguir, a bola fica ao alcance do jogador do Porto que está em linha com ele... e será uma jogada muito perigosa a favor do Porto.
Foto 2: O jogador do Benfica olha para cima e tenta interceptar a bola com a cabeça; se o conseguir é um bom corte; se não conseguir... também não faz mal nenhum, porque o jogador do Porto está completamente fora de jogo.
Foto 3: O jogador do Benfica já não está a olhar para cima... e corta a bola, ostensivamente, com a mão. Penalty contra o Benfica!!!
Foto 4: O relvado está, finalmente, a ser utilizado corretamente!
Sendo assim, a menos que eu tenha criado uma súbita paixão por futebol, para que serve esta minha exibição gratuita de habilidade (mesmo que moderada e rudimentar!) para manipular repetidamente a mesma fotografia?
Serve para percebermos que tipo de gente está ao comando dos grandes meios de comunicação social. O tipo de gente que todos os dias manipula fotografias de futebol... mas também opiniões, análises políticas, notícias, sondagens eleitorais. Gente que faz “desaparecer acidentalmente” das suas páginas e telejornais as verdades inconvenientes, as lutas dos trabalhadores, a cultura incómoda. Gente que trata a realidade e a verdade, como eu acabei de tratar a pobre fotografia nº1.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Governo PS/Sócrates – Com o mal dos outros...



“Que Deus-Nosso-Senhor nos dê muita saúde...
... e muitos clientes a tê pai!”
Esta frase ficou famosa na Angra do Heroísmo dos anos sessenta do século passado. Era uma frase-feita muito repetida pela mãe de um jovem angrense, um pouco mais velho do que açoriana que ma ensinou. A frase é de um tremendo humor negro, já que o pai do rapaz e marido da senhora era proprietário de uma agência funerária. Daquelas à antiga, que fabricavam os seus próprios artigos. O forte apego da senhora às questões materiais podia admirar-se também nos seus famosos presépios, que exibia orgulhosa e cujas numerosas figuras eram vestidas com restos das sedas dos caixões... presépio “monumental” que, para aproveitar o roxo, contava até com uma procissão do “Senhor dos Passos”.
Até hoje, todos os terceirences que se lembram deste dito da sua conterrânea, continuam a achar-lhe muita graça... e a não levar a mal aquilo que realmente significava.
Noutro contexto, o senhor secretário de estado do turismo do Governo de Portugal, um tal Bernardo Trindade, ainda não conseguiu perceber que não lhe fica nada bem, nem como governante, nem como ser humano, insistir na ideia de que as convulsões que ocorrem em países como o Egipto, a Tunísia, Marrocos, ou Líbia... são boas para Portugal (!!!)... e isto, porque no entender do secretário de estado, os turistas poderão fugir desses países, optando por passar férias por cá. É, no fundo, o mesmo “desejo” da esposa do cangalheiro... mas envolvendo muito mais mortes e milhões de euros de “ganhos”.
Então porque é que eu, embora também achando muita graça à senhora da Terceira, considero o secretário de estado um piolhoso político?
Primeiro, porque aquilo que se está a passar no Médio Oriente não se deve ao mau tempo. As “convulsões” que, em teoria, podem trazer para cá umas centenas de turistas assustados, sendo movimentos sociais e políticos que poderão vir a transformar a face de uma grande área do planeta, estão, nesta fase, a custar centenas de vidas de cidadãos desses países, se não forem já milhares.
Segundo, porque o secretário de estado não está a falar com o filho, nem é uma senhora semianalfabeta da Ilha Terceira dos anos sessenta, mas sim um membro de um governo que se diz socialista e em 2011.
Terceiro, porque ainda que o governante e o governo sejam suficientemente reles para pensarem assim, deviam ter ao menos o decoro de não o dizer em público.
Quarto, porque acho que já perdi a paciência para estes pequenos pormenores... que nem por serem pequenos, nem por serem pormenores, são menos asquerosos.

Lúcia Moniz – Como um fio de luz a bordar a vida...


Passados alguns anos sobre a edição do último CD de originais, acontece novamente um disco com canções novas da Lúcia Moniz. Passados vários anos de projetos televisivos, filmes e teatro, o gosto pela música sobrepôs-se.
A Lúcia cresceu. Quanto caminho andado desde estes fantásticos “Três gatinhos”, ou mesmo deste “O meu coração não tem cor”, do José Fanha e do Pedro Osório.
Logo, lá para as dez da noite, serei mais um dos que terão o prazer de a ouvir, ao vivo, no Centro Cultural Olga Cadaval, cantando em estreia absoluta as canções do novo disco.
Será uma estreia também para mim. Não ouvir a Lúcia a cantar, mas porque apesar de já ter feito canções para outros cantores e cantoras, nunca até hoje um colega das cantigas me tinha pedido para escrever uma letra para uma música sua. Foi esta. Chama-se “Fio de luz”... e a artista e a produção entenderam que devia emprestar o nome ao próprio disco.
Leiam... e se puderem, apareçam por lá.
Fio de luz
(Samuel Quedas/Lúcia Moniz)

Sai da sombra
Vem prá luz
Que vai nascer
Sai do medo
Olha o dia
A amanhecer
Sai do frio
Olha o fogo
A acender
Acender

Sai de casa
Sai de ti
Desata os nós
Solta os versos
E a coragem
Solta a voz
Olha o sol
Que vai chegar
Pra te aquecer
Aquecer

Como um fio de lã
A tecer o amor
Como um fio de luz
A bordar a vida

Que vai chegar
Olha o sol que vai chegar
Pra te aquecer

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Frases que ficam no ouvido (e fazem inveja)


Numa leitura de um texto do nosso amigo Correia da Fonseca no “Odiario.info”, deparei-me com uma verdadeira pérola. O crítico de televisão, que já leio pelo menos desde os tempos do saudoso jornal com o mesmo nome, “O Diário”, jornal que o Ary batizou – e muito bem – como “a verdade a que temos direito”... ... ... portanto, o Correia da Fonseca, como ia dizendo, comentava o facto indesmentível de uma das qualidades sine qua non para ter lugar como comentador e analista nas televisões ser o anticomunismo.
Pelo meio desta dissertação e a propósito da convocação do salazarista confesso, Jaime Nogueira Pinto, enquanto “especialista” de assuntos do Egipto, Correia da Fonseca saiu-se com esta:
«Uma outra situação verdadeiramente sintomática aconteceu com o dr. Jaime Nogueira Pinto, chamado um pouco inesperadamente para opinar sobre o Egiptopois embora sabendo-se que o dr. Jaime é devoto do dr. Salazar não é inevitável que essa devoção o relacione forçosamente com o país das múmias».
O que eu gostava de ter escrito isto!!!

A saúde pública e os velhos – Morrer sai muito mais barato


Vejo na televisão uma manifestação de cidadãos, maioritariamente idosos, protestando contra mais um encerramento de um atendimento permanente na Urgências de um Centro de Saúde. Desta vez é em Torre de Moncorvo.
É longe! Torre de Moncorvo fica muito longe e esta gente, como a gente de outras “Torres de Moncorvo” deste país, valem pouco eleitoralmente, o que as faz não valer nada para o regime de Sócrates.
São as mesmas queixas de sempre: agora o serviço de urgências mais próximo vai ficar a quarenta quilómetros, a sessenta quilómetros, o hospital a mais de cem... se alguém se sentir mal, quando chegar a meio da viagem já fechou os olhos pra sempre... o táxi para lá custa para aí cem euros... onde é que temos dinheiro para o pagar?
Se é evidente que o regime de Sócrates encerra serviços públicos por toda a parte, se as grandes oportunidades de negócio com a saúde não estão nestas terras do interior profundo, por muito bonitas que sejam, mas sim nos grandes centros populacionais do litoral, se isto é já uma notícia recorrente... o que é que há de novo então? Há a desconfiança crescente e já evidente, por parte do povo e particularmente dos velhos, de que o regime se quer ver livre deles. Sim! Este regime de “socialistas” modernos, europeus e extensamente “democratas”... e não os comunistas, como andaram durante décadas a ser ensinados os seus pais e eles próprios. O regime que vê-los pelas costas, sem ter sequer que gastar o dinheiro da célebre “injeção atrás da orelha”.
Gostaria de poder ter uma palavra de ânimo para estes muitos milhares de idosos que trabalharam toda uma vida duramente e que são merecedores, pelo menos, de respeito. Gostaria de poder dizer-lhes que o Governo do seu país não quer, dolosamente, vê-los mortos, apenas para poupar no dinheiro das pensões e das comparticipações do Serviço Nacional de Saúde.
Gostaria... mas com que argumentos e, sobretudo, com que convicção?

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

José Mourinho, Real Madrid... e “serviço público”






Ontem, enquanto jantávamos à pressa, por volta das sete, reparei que também a RTP1 estava a transmitir o seu Telejornal à pressa e uma hora mais cedo. Fiquei entretanto a saber que o corrupio era “derivado” à transmissão direta de um jogo do Real Madrid de Mourinho e Ronaldo... de encontro a não sei quem... o que é, pelos vistos, aquilo que na nossa televisão pública tem estatuto de verdadeiro “serviço público”.
Compreendo a excitação dos adeptos e admiradores de Mourinho e Ronaldo, assim como compreendo o interesse da RTP1 num jogo de uma equipa estrangeira que é treinada por um português... só que depois, durante a viagem que nos obrigou a jantar mais cedo, fui tentando imaginar a TVE a alterar a hora de um serviço público de notícias em Espanha para transmitir um jogo, por exemplo, do Benfica, dos tempos em que foi treinado por técnicos espanhóis... e desconfio que nem procurando à lupa encontraria um único caso. Fui durante uns constrangidos quilómetros a pensar quão parolo é preciso ser para fazer aquilo que fez a RTP1.
Ou então... tudo isto não passa de um problema meu, que não gosto de ver a televisão do Estado a fazer estes “servicinhos”... ainda por cima, em público!

José Afonso – Que dizer?


O que é que se pode dizer de alguém que mudou a nossa vida? Se não tivesse partido em 23 de Fevereiro de 1987 seria hoje um senhor idoso, com 82 anos. Se não tivesse partido continuaria a ser, como sempre foi, o mais jovem de todos nós. Se não tivesse partido estaria a fazer coisas extraordinárias, novas e arrojadas... e algumas delas seriam canções.
O que é que se pode dizer, que não venha avivar a ferida? O que dizer de alguém que mudou a nossa vida? Não sei.
Todos vocês têm no coração uma canção do Zeca; aquela que para cada um é a mais bonita, a mais importante... e que devem agora trautear em pensamento, sem precisarem de “guia”.
Um abraço!

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Os doentes, essa grande ameaça à economia nacional!


Para tentar remediar a triste incompetência que não tem permitido a criação de um método e regras suficientemente claras e seguras na prescrição de medicamentos, o Ministério da Saúde já se sujeita a ouvir dicas da Inspeção Geral de Finanças, sobre como receitar e o que receitar aos doentes.
Uma das brilhantes “soluções” para evitar as fraudes é vir a poder ser obrigatório os utentes mostrarem o BI no acto da compra dos medicamentos.
Há, portanto, na IGF e no Ministério da Saúde, quem ache que será assim que vão combater as duas ou três redes organizadas de bandidos que roubam o estado com o negócio das receitas fraudulentas: castigando todos os utentes.
Estou mesmo a ver as velhotas com oitenta anos, que tenham perdido o BI há dois dias, a terem que ficar sem os remédios para o coração... ou então, terem que ir comprá-los acompanhadas pelos pais, ou por um agente da polícia... não vão fugir com os comprimidos e vendê-los aos espanhóis.
Ou então, o mais prático será fazerem tudo pela Internet, com as amigas, para deixarem José Sócrates babado de tão feliz com o nosso progresso.
Triste país, que tal governo suporta!

Conversas de café



Para quê conquistar mercados para os produtos

que os operários fabricam?

Os operários

ficariam com eles de bom grado.
(Bertold Brecht in “Cartilha de Guerra alemã”)

Este micro-poema de Brecht, surripiado ao “Cravo de Abril”, seria mais do que suficiente para definir todo um programa de economia política... e explicar melhor do que eu, os pontos de vista que defendia numa recente conversa de café. Mesmo assim, pelo prazer da coisa, lá fui dizendo de minha justiça...

Depois de chamar a atenção do meu parceiro de conversa para o facto, cada vez mais evidente, de esta grande “vitória orçamental” de Sócrates assentar numa confusa aldrabice, em que números sobem e descem ao sabor das interpretações, sendo que aquilo que é certo, é a triste verdade de, a existir a tal queda do défice, isso ser conseguido unicamente à custa do sofrimento de velhos, doentes, crianças sem abono de família, desemprego, aumentos de impostos e, claro, o roubo dos salários (o que eles detestam ouvir isto!)... esse amigo, questionando a minha afirmação de que os salários baixos são maus para aqueles que os ganham, mas igualmente nocivos para a economia nacional, ao passo que os salários milionários de alguns, se são doces para esses, são perfeitamente inúteis para essa mesma economia nacional, mais por “provocação” para forçar resposta, do que por convicção, atirou-me:

- Mas não achas que se os ricos tiverem muito dinheiro isso também é bom para o comércio e para o Fisco...

- Não! Quanto ao Fisco, basta ler as notícias sobre os impostos pagos pela banca e sobre os milhões que correm em negócios feitos em “offshores”, para estarmos conversados. Sobre o dinheiro que injetariam na economia nacional, isso não passa de uma ilusão. Um trabalhador que ganhe o ordenado mínimo, um jovem licenciado da geração dos 500 euros, ou mesmo trabalhadores que ganhem mil euros por mês, “aplicam” esse dinheiro na sua totalidade, em comida, em medicamentos, em material didático para os filhos, em pagamento de transportes para ir para o trabalho... e estes são milhões. Já aos milhares de ricos, ou às centenas de muito ricos, depois de satisfazerem as suas necessidades básicas, ainda que mais caras, sobram-lhes milhares de milhões de euros inúteis.

Enquanto os primeiros alimentam a cadeia de pequeno comércio local e a produção nacional (a pouca que resta) com a totalidade do seu dinheiro, os segundos, depois de saciados, se tiverem alguma espécie de compulsão por gastar dinheiro por vício ou exibicionismo, acabam a alimentar a economia alemã, comprando os seus extraordinários carros, a economia suíça, com a tara dos relógios de muitos milhares de euros, a economia francesa, com o luxo milionário dos seus perfumes personalizados, investem milhões em “produtos financeiros” não produtivos... ou seja, tal como o seu dinheiro, são uns inúteis.

Depois de me ter arrancado aquilo que, afinal, queria ouvir, o meu parceiro de café perguntou-me, sorrindo, se nestas conversas e “lá no Cantigueiro”... eu não me sentia, de vez em quando, a atirar pérolas a porcos.

- Não! Primeiro, porque a maior parte dos meus leitores é gente amiga; segundo, porque mesmo pensando em todos os outros... vale sempre a pena dizer aquilo em que se acredita.
Não. Sinto que estou a atirar pérolas a porcos, sim, quando pago os impostos... e isso, por ver tantas vezes que essas “pérolas” que atiro, mesmo poucas, em vez de serem usadas para o que deviam, passam por mim na rua, depois, transformadas em grandes carrões; agridem-me, transformadas em ostensivas mansões... isto quando “eles” não têm mesmo o desplante de se passearem com elas enroladas ao pescoço.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Hienas à solta






Quanto mais dificuldades têm, mais as pessoas são dadas a pagar as suas contas a tempo e horas e fazer da honradez uma marca distintiva de vida. O “desprezo” por questões de dinheiro é apanágio daqueles que têm muito. Assim, quando uma família mais pobre não paga, por exemplo,  uma conta da água dentro do prazo, o mais certo é fazê-lo por não ter dinheiro disponível e não por displicente “distração”.
Com a entrada em vigor do Orçamento de Estado 2011, «os consumidores que não paguem a água a tempo vão passar a incorrer imediatamente em processo de execução fiscal, passando a pagar o dobro do valor que consta da factura»em vez do pequeno juro de 1 por cento ao mês que pagavam antes.
Esta é mais uma medida que mostra o carácter humano e “socialista” deste Governo e do seu OE… que não aprovou sozinho, é bom recordar.
Aqueles que contribuíram com o seu voto para a aprovação deste Orçamento de Estado, mas não se deram ao incómodo de ver, ou questionar medidas como esta, deviam envergonhar-se. Já aquelas hienas que sabiam muito bem o que estavam a votar, nem têm classificação possível! Pelo menos uma que não me cause imediatamente problemas com a “sua” justiça.
Sinto-me muito bem do lado dos que votaram contra!

Série “Grandes cabeças”


Não pretendo de todo fazer uma revista do fim de semana, mas apenas destacar três grandes cabeças que cometeram, nos últimos dias, frases dignas de uma nota especial... ao jeito cá do estabelecimento.
1. O grande Joe Berardo (no qual também tropeçou – e bem - o “Cravo de Abril”) é, como toda a gente sabe, um inútil que toda a vida viveu da especulação. Nunca produziu nada... a não ser, recentemente, umas garrafas de vinho que já comprou prontas a vender e com o nome feito... mas produz frases imbecis, muito por culpa de quem se lembra de lhe ir perguntar coisas.
Desta vez não fez a coisa por menos: diz que a culpa da crise é dos «especuladores» (só os outros, suponho!), que o perigo do desemprego e dessa mesma crise é poder provocar «revoluções» (deus nos livre e guarde!!!), que precisamos de inventar uma «nova democracia»... ou então um «novo género de ditadura que todos temos de aprender (???)». Levado pelo entusiasmo deu mesmo a entender, numa espécie de aula de História intercalada com elogios a Salazar (era fatal!), que uma situação destas nem é digna de Portugal, que, segundo ele diz «foi um povo que dominou o mar há 200 anos».
E eu a pensar que há duzentos anos, nos idos de 1800 e seguintes os portugueses estavam ocupadíssimos a ver a Corte a fugir para o Brasil, o país invadido pelas tropas francesas, depois, as lutas entre os liberais e os outros, a guerra civil, a “patuleia” e os “cabrais que são falsos à nação”, etc., etc... e afinal, andávamos a dominar os mares!!!
Se ao menos Berardo conseguisse dominar o seu “mar” de ignorância...
2. Outro grande português que também tem vivido muito bem da “especulação” é o grande pensador de Vilarinho do Bairro, o Prof. Vital Moreira. Na última quinta-feira, comentando as declarações do governador do Banco de Portugal, que afirmou já estarmos em recessão, disse que «Há duas qualidades muito necessárias num governador de banco central: discrição mediática e "self-restraint" verbal... ». Para quem não tem o tradutor aí à mão, isto que dizer: “Fazer o frete ao Governo e estar caladinho”.
Vital Moreira sempre, sempre no seu melhor!
Mesmo depois da clara desmistificação (feita aqui pelo Sérgio Ribeiro) da aldrabice feita com os números da queda do défice nas contas públicas, confesso que é muito estranha esta sensação de estar de acordo com o primeiro-ministro. É que, curiosamente, também eu ficaria muito contente com a “execução” do orçamento... embora fique com a uma leve impressão de que não estamos os dois a falar da mesma coisa... nem da mesma execução.


domingo, 20 de fevereiro de 2011

“Folías de libertad” – Los Sabandeños



A música popular das Canárias, pelo menos alguma dela, eclodiu dos mesmo ovos e nos mesmos ninhos em que nasceu a música tradicional dos Açores... pelo menos alguma dela. Quando uma das “orquestras” típicas canárias (as “parrandas”) começa a tocar a introdução instrumental de uma das suas modas, fica-se com a sensação de que os cantores vão começar a cantar uma moda dos Açores.
São muitas as melodias-base da música tradicional canária, melodias que são cantadas com as mais diversas letras e “voltas” originais na forma de cantar, ao sabor da inspiração dos poetas e da criatividade dos cantadores e cantadeiras. Podem ser “isas”, “malagueñas”, “seguidillas”, "aires de Lima", etc., etc… ou “folías”. Hoje proponho uma folia.

Pertencente ao reportório do grande grupo “Los Sabandeños”, esta canção, “Folias de libertad”, lembra-nos que, mesmo no meio da festa da música tradicional, é importante que se cantem coisas como esta... um verdadeiro canto de luta em defesa da identidade cultural dos “canários”, da sua música, da sua autonomia.

Folias de liberdade
(Los Sabandeños)

Partiram o bico ao canário com uma enxada
Parece que convinha que o canário não cantara…

Ai canário lindo, ai lindo canário
Vem daí connosco e deixa o falsário

Aquele pequeno cantor
Que cantava atrás das grades
Soltou o pescoço, rompeu a jaula e voou
Aquele pequeno cantor, cantou.

Foi com o seu voo e o seu cantar
Seguindo os ventos da liberdade

A alegria do canário é dar vida a um cantar
E ao ritmo de uma folia deixá-lo, livre, voar.

A alegria do canário é dar vida a um cantar
Do monte até ao pico, do mar até à serra
Milhares de canários defendem a sua terra

Bom domingo!

Folías de libertad
(Los Sabandeños)

Al canarioal canario le partieron, el pico,

el pico con una azada,
parece convenía que el canario no cantara.

Parece que convenía, que el canario no cantara.

Al canario le partieron el pico con una azada.

¡Hay canario lindo!, ¡hay lindo canario!
vente con nosotros y deja el falsario.

Aquel pequeño cantor,
que cantaba entre barrotes, que cantaba.

Que cantaba entre barrotes
desgañitó su cogote, rompió la jaula y voló.

Desgañitó su cogote rompió la jaula y voló.
Aquel pequeño cantor, cantó.

Se fué con su vuelo y con su cantar,
en pos de los vientos de la libertad,

La alegría del canario,
es darle vida a un cantar, darle vida;
es darle vida a un cantar,
al compás de una folíadejarlo libre volar.
al compás de una folíadejarlo libre volar.

La alegría del canarioes darle vida a un cantar,
del monte hasta el pico,
del mar a la sierra
miles de canarios defienden su tierra.

Folías de Libertad” – Los Sabandeños
(Los Sabandeños)