quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Papiniano Carlos (1918-2012) – Uma semana negra!



Registando a partida do poeta e companheiro de sempre, Papiniano Carlos, nenhuma palavra é melhor do que lembrar algumas das suas. Militantes, certeiras, belas!

Renovação




Em cada dia morre um homem em mim.

Em cada dia nasce um homem em mim.

Só o itinerário é o mesmo, e isso decerto basta.

E eu tenho saudade dos homens que fui!

E eu anseio, espero os homens que serei!

Dia após dia, eu me renovo, sigo sempre.

Meus olhos de ontem não são meus olhos de hoje.

Um mundo morre, outro mundo nasce em cada dia.

Só o itinerário é o mesmo, e isso decerto basta.



(Papiniano Carlos)

Itinerário

Os milhares de anos que passaram
viram
a nossa escravidão.



NÓS carregámos as pedras das pirâmides,

o chicote estalou,

abriu rios de sangue no nosso dorso.

NÓS empunhámos nas galés dos césares

os abomináveis remos

e o chicote estalou de novo na nossa pele.

A terra que há milhares de anos arroteámos

não é nossa,

e só NÓS a fecundamos!

E quem abriu as artérias? quem rasgou os pés?

Quem sofreu as guerras? quem apodreceu ao abandono?



E quem cerrou os dentes,
quem cerrou os dentes
e esperou?



Spartacus voltará: milhões de Spartacus!



Os anos que aí vêm hão-de ver

a nossa libertação.



(Papiniano Carlos)

8 comentários:

Maria João Brito de Sousa disse...

Semana negra, negra :(

São disse...

Paz à sua alma e que se lhe siga o exemplo.

Paz também para Oscar Nimieyer.

Abtaços para vós.

Donatien disse...

O Niemayer e o Benite.

Maria disse...

Um dia especialmente cinzento numa semana negra.

Abreijo.

Domingos da Mota disse...

Um escritor, um poeta, um militante de um grande humanismo. Acabei de o acompanhar à sua última morada.

lino disse...

Foi mesmo uma semana negra levando três dos melhores de fala portuguesa!
Abraço

jrd disse...

Cega e surda, insaciável, anda a grande ceifeira que, cruel e desenfreada, não se cansa de levar os nossos melhores.

Olinda disse...

A verdade,ê que isto de estar vivo,acaba algum dia.Lamentâvel mesmo,a morte de Benite,ainda tinha tanto para viver.Mas,os nossos mortos sô os deixamos de ver,ficam sempre connosco.